terça-feira, 17 de maio de 2011

Massacre étnico


Há exatos três anos o Fórum Estadual da Juventude Negra do Espírito Santo (Fejunes)aproveitava o 13 de Maio, Dia da Abolição da Escravatura no Brasil, para marchar pelas ruas de Vitória e mostrar à população a indignação do movimento frente ao extermínio de jovens negros no Estado. Na sexta-feira, 13, os militantes da Fejunes, com o apoio de outros organizações da sociedade civil, promoveram ato público na praça Costa Pereira, em Vitória, em protesto à “Falsa Abolição da Escravatura”.
“A data não tem nada a ser comemorado pelo povo negro. O 13 de maio simboliza para nós o dia da denúncia contra o racismo. Esse racismo perverso que impede que a juventude negra tenha acesso aos seus direitos. Isso contribui para essa situação de extermínio que vivemos hoje no Espírito Santo”, afirmou Luiz Inácio Silva Rocha, o Lula, um dos coordenadores do Fejunes.
Lula comentou os dados do Mapa da Violência 2011, que foram publicados no início desta semana. De acordo com o estudo do Instituto Sangari, o Espírito Santo detém a segunda maior taxa de homicídios entre os jovens com idade entre 15 e 24 anos no Brasil, ficando atrás apenas de Alagoas. Para se ter uma ideia da gravidade da violência no Estado, segundo a pesquisa, somente nos municípios da Região Metropolitana da Grande Vitória, em 2008, a taxa de homicídios entre os jovens (brancos e negros) atingiu a alarmante marca de 189 assassinatos para cada grupo de 100 mil habitantes.
A pesquisa, que avalia o período de 1998 a 2008, coloca Vitória como a terceira capital mais violenta do País, com 181,9 homicídios/100 mil. Entre os municípios com 10 mil jovens ou mais, Serra aparece como o segundo mais violento do País. As chances de um jovens morrer na Serra é de 245 por 100 mil. Em El Salvador, que é apontado pela pesquisa como o país que mais “mata” jovens no mundo, a taxa de homicídio ficou, em 2006, em 105/100 mil, ou seja, menos do que dobro da Serra. A Organização Mundial de Saúde (OMS) considera taxas acima de 10/100 mil como violência epidêmica.
Para Lula, a violência contra o jovem no Espírito Santo, sobretudo negro e pobre, está relacionada à falta de direitos dos negros. “Enquanto os direitos continuarem sendo negado aos negros teremos esses números absurdos”, protestou.
A pesquisa do Instituto Sangari confirma a indignação do militante, no comparativo de 2008, a taxa de homicídios que vitimou jovens brancos no Estado foi de 27,6/100 mil habitantes, contra 136,5 de negros, ou seja, se matou cinco vezes mais negros do que brancos.
“O jovem negro, pobre e morador das periferias faz parte do grupo mais vulnerável. Costumo dizer que os jovens negros que não entram para essas tristes estatísticas podem se considerar sobreviventes desse extermínio”. O militante da Fejunes diz ainda que há uma segregação muito forte no Espírito Santo. “Parece que há dois estados, o Espírito Santo que pertence às elites e outro abandonado, onde estão os negros. O governo fala muito em desenvolvimento econômico, em potencial de crescimento, mas os negros ainda não foram incluídos neste Espírito Santo”.
Lula apontou que o caminho da inclusão começa pela promoção de políticas públicas que verdadeiramente sejam capazes de assegurar o acesso da população negra. Ele lembrou que, nesse sentido, o ex-governador Paulo Hartung jogou contra os negros. “A 8594/2007, que institui as políticas públicas para a juventude, foi vetada pelo então governador Paulo Hartung. À época, a Assembleia chegou a derrubar o veto”, recorda. A proposta do deputado Cláudio Vereza (PT) prevê também a criação do Conselho da Juventude, que até hoje permanece no papel.
O coordenador da Fejunes, que é também secretário executivo do Conselho Estadual de Direitos Humanos, ressalta que o diálogo com o governador Renato Casagrande ainda não avançou. “Em março solicitamos uma audiência com o novo governador, mas até hoje ele não nos deu retorno. Estamos aguardando”.

Racismo institucional também é crime, denuncie.