quinta-feira, 4 de agosto de 2011

O novo luck, novas ideias.

Chaves no estilo Pó Royal
Nos últimos doze anos, não resta dúvida que a Revolução Bolivariana conseguiu atingir metas fascinantes, sobretudo no terreno da inclusão social, mas tampouco resta dúvida que se equivocou, como todas as revoluções, tal como revela o constante chamado às retificações no discurso e na ação revolucionária, feito nas últimas semanas pelo presidente Hugo Chávez.

Frente a sua enfermidade (advertiu que nos próximos dias começará a cair o cabelo por causa da quimioterapia), o mandatário lançou uma advertência geral: a Revolução deve deixar de se autosuicidar (Carlos Andrés Pérez dixit) e começar a ser vivida. Estes chamados – com certo sabor de autocrítica e de uma piscadela para intelectuais, empresários e classe média – devem ser analisados e debatidos com muita atenção pelo coletivo (não só a direção, claro) chavista.

Sempre consideramos a revolução bolivariana como um processo sui generis, desde o momento em que optou pela via pacífica e eleitoral. E por isso, quando as coisas não vão bem, quando não se cumprem as promessas de governo, a resposta popular é a perda de votos. Já ocorreram alguns sinais de alerta neste sentido.

A revolução dos indignados tem sido isso, constituindo-se no espelho onde se olham hoje os movimentos populares na Islândia, Grécia, Espanha, Portugal, em um momento histórico universal, quando transitamos pela crise do modelo capitalista. Desde a América Latina mostramos o caminho: é preciso tomar as ruas para impedir que nos deixem sem direitos.

Em seus pronunciamentos das últimas semanas. Chávez esboçou seis linhas de ação e retificação:

a) Devemos superar o modelo dirigente baseado em uma liderança ou “hiperliderança”, para que cada ministro, dirigente, funcionário, cumpra com seu trabalho. É preciso que cada um assuma suas responsabilidades, para que tudo não dependa da linha baixada por Chávez. Em uma revolução, os cargos não são para ocupar assentos e vantagens e esconder-se sem cumprir com seu trabalho e seu mandato.

É preciso terminar com o conceito de partido-máquina eleitoral. Hoje existe um inegável clientelismo no Partido Socialista Unido da Venezuela, o que tem sido uma forma de impedir o debate, a desobediência, a irreverência e a criatividade. Além disso, devem ser esclarecidos os limites da convergência cívico-militar, para assegurar que os representantes do povo sejam eleitos pelas próprias comunidades. “Não ao sectarismo, não ao grupalismo, isso mata e semeia a morte, e aqui o que queremos é a vida e um partido histórico, novo, dirigente e dirigido, aberto. Quero insistir nisso com muita força e fé no que estamos conquistando”, apontou Chávez.

b) É preciso extirpar o sectarismo. Ninguém é revolucionário por usar camisas vermelhas, nem por gastar dinheiro público em práticas onde mostram seu próprio “revolucionômetro” e desqualificam aqueles que têm uma posição não complacente, com motes de contrarrevolucionário ou agentes da CIA. Somente exercem uma censura à opinião e à força do coletivo.

Por isso, Chávez fez um chamado para pulverizar o caudilhismo interno, pois ele termina convertendo-se em células malignas para a organização. “Trata-se de velhas rêmoras do passado: o sectarismo. Temos que terminar de pulverizar o fracionalismo interno, de caudilhos, pequenos caudilhos, que pretendem manipular outros setores; quem não se sentir em condições deve ir a outros âmbitos da vida, mais além do PSUV”, expressou. Mas foi mais além, conclamando os dirigentes a fazer uma “revolução interior”.

c) Sem dúvida, uma revolução inteligente é aquela que tem bom ouvido, a que sabe processar as opiniões do coletivo. Por isso é preciso ser autocrítico desde o povo e não deixar a crítica nas mãos da oligarquia. A crítica leal não é deslealdade e é preciso terminar com os estigmatizadores de ofício, que são realmente os espanta votos e responsáveis pela falta de avanços da revolução. Chávez pediu para extirpar o dogmatismo e o sectarismo entre seus partidários, criticou o abuso com termos como “socialismo” e da cor vermelha, e propôs uma nova consigna: “Independência e pátria socialista, viveremos e venceremos”.

d) É preciso terminar com os problemas de corrupção, ineficácia e ineficiência. E, para isso, é imprescindível a formação séria de quadros gerenciais e políticos. Não se trata de apropriar-se de um orçamento, mas sim de garantir a continuidade do processo, garantir a vida da revolução.

e) Terminar com a premissa de presentear a classe média e a burguesia. O objetivo da luta pelo socialismo é ganhar a luta de classes contra a oligarquia. Uma coisa é o movimento tático, sempre e quando se tenha claro que a batalha é cultural; outra é esquecer-se dos trabalhadores e marginalizados para buscar um novo amor. O primeiro grupo social, que depois da tentativa golpista de 4 de fevereiro, viu com simpatia e entusiasmo o comandante Chávez, foi precisamente a classe média e, em especial, a intelectual, setores que foram marginalizados dos setores próximos ao poder, que foram escolhendo funcionários por seu apoio incondicional. A intelectualidade, que foi marginalizada e cooptada na Quarta República, viu em Chávez a oportunidade de realizar juntos o sonho bolivariano.

f) A consigna é abrir-se ao setor produtivo privado (pequenas e médias indústrias e empresas). Nesta larga etapa de construção, seguirão existindo formas mistas da economia e persistirão alguns traços e características do capitalismo. Chávez, intuindo a necessidade de alianças com setores da burguesa, convidou os empresários a fazer empresas mistas, a somar esforços. “Esta é uma economia na qual queremos que sigam participando junto ao Estado...Vamos construir uma aliança (...) quero que caminhemos juntos para 2021, conto com vocês”.

Chávez insistiu em que o partido se envolva diretamente na luta contra a especulação e a usura. “Acabo de aprovar a Lei Habilitante de controle de preços e preços justos. Essa tem que ser uma bandeira do partido em todas as partes junto ao povo, educando, orientando e lutando. Façamos isso. Porque o capitalismo é um metabolismo que penetra em todas as partes”, observou o chefe de Estado.

O presidente assegurou que o socialismo é um escudo ante a queda e a falência do império estadunidense, devido ao sistema capitalista que o sustenta. “É a crise do capitalismo global. Os Estados Unidos estão quebrados e, todavia, ainda há porta-vozes que viajam para lá. O império está quebrado e, neste processo, pode arrastar meio mundo; por isso é preciso se desconectar desse afundamento econômico. Por isso o socialismo, o desenvolvimento industrial, o desenvolvimento do petróleo de maneira soberana”, disse.

Vestido com uma camisa amarela, presente de sua filha, Chávez deixou uma coisa bem claro, se alguém tinha dúvida, com certa picardia: “Serei candidato nas eleições de 2012 e vou ganhá-las. Adán [seu irmão] está se preparando para a sucessão, porque veio bem barbeado”, assinalou entre risadas.

(*) Aram Aharonian é diretor da revista Question, co-fundador e ex diretor da cadeia de televisão Telesur

Tradução: Marco Aurélio Weissheimer
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